Um olhar compreensivo sobre autocompaixão na maternagem

2 de maio de 2022

* Por Dr. Marcelo Demarzo


Faça um exercício simples e reflita: quando foi a última vez que você sentiu compaixão? Dê um passo adiante e pergunte-se, e autocompaixão? Você já se permitiu sentir essa dor?

Em um mundo onde a urgência é vitrine para tudo – de trabalho a relações -, tirar um tempo para olhar para si parece contraditório, mas também urgente.

O processo – desafiador para boa parte da sociedade –, é ainda mais trabalhoso para a figura materna, um papel tão admirado quanto, muitas vezes, solitário.

Dúvidas, receios, cobranças e culpas perambulam nesse universo sagrado da maternagem. O estereótipo, que por anos foi mantido, da mãe sempre feliz, satisfeita e segura de suas atividades junto aos filhos, ainda é uma grande barreira inconsciente para a autocompaixão na maternagem.

Mas é urgente a necessidade de abandonar os velhos conceitos. Eles já não cabem mais nesse mundo em que vivemos. Na verdade, nunca couberam, mas a imposição de muitas crenças nos limitou a idealizar um cenário romântico sobre a maternagem.

Na prática, o processo de maternagem envolve sofrimento, dúvidas e dor, um retrato legítimo de compaixão.

E aqui, vale um esclarecimento cirúrgico sobre compaixão e autocompaixão.

Compaixão é a base da inteligência emocional. É por meio dela que desenvolvemos habilidades socioemocionais tão necessárias e requisitadas atualmente em todos os sentidos da vida.

Entende errado aquele que pensa que compaixão seja sentir pena de si mesmo; ou aceitar tudo e tornar-se passivo diante de situações complexas; ou ainda entender esse sentimento como fraqueza.

Talvez uma das interpretações mais errôneas a respeito desse conceito, esteja ligado à condição de relacionar compaixão ao egoísmo. Longe disso. Pessoas autocompassivas demonstram cuidado e empatia com os outros, mas para cuidar do outro é preciso cuidar de si. Portanto, autocompaixão é fundamental!

A essa altura você deve estar se questionando, como desenvolver autocompaixão? Eu te respondo: um dos caminhos é o treino! Compaixão é habilidade e, como tal, pode ser desenvolvida.

Neste sentido, a prática de Mindfulness orientada para desenvolver a Compaixão permite o despertar da consciência do próprio sofrimento e do alheio sem julgamento ou crítica e nos leva a encontrar soluções mais lúcidas para problemas do cotidiano, a reduzir a autocrítica e a culpa excessiva. Mais do que isso, nos permite diálogos mais gentis – conosco e com o próximo.

A prática não é tábua de salvação. Pelo contrário, requer comprometimento, frequência e dedicação. Contudo, é uma ferramenta de autocuidado genuína, que, entre outras atribuições, nos auxilia a mergulhar em um processo de autoconhecimento, reconhecimento de emoções e aprendizado de como lidar com a dor, a culpa, a cobrança de uma forma mais assertiva e promovendo mudanças para uma melhor qualidade de vida e bem-estar.

Um olhar compreensivo para novos tempos nos traz também a possibilidade de uma releitura sobre nós mesmos e nosso lugar na sociedade.

A Compaixão em Mindfulness transforma solidão em solitude e, novamente estabelecendo um paralelo dentro dessa trilha de maternagem, contribui para entender vivências, medos, culpas e tantos outros sentimentos que, muitas vezes, imobilizam para a tomada de decisão plena e consciente.



(*) Dr. Marcelo Demarzo é médico formado pela USP e Pós-doutorado em Mindfulness pela Universidad de Zaragoza, fundador do Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – Mente Aberta e Professor da UNIFESP

Mindfulness Para a Saúde – Saiba mais

 


Compartilhe

LEIA TAMBÉM

Uma mulher está deitada em um sofá com as mãos atrás da cabeça.
21 de março de 2024
Muita gente acredita que Mindfulness é apenas meditação ou uma forma de "esvaziar a mente", mas é muito mais do que isso. Na verdade, Mindfulness um estado natural de nossa mente, de maior foco e atenção, que pode ser treinado e desenvolvido por qualquer pessoa, independentemente de idade, gênero ou condição social. Mindfulness significa estar mais atento e focado no que fazemos e sentimos, de forma consciente e sem distrações, seja no trabalho, em casa ou em momentos de lazer. Além de trazer mais bem-estar para o dia a dia, Mindfulness também oferece benefícios poderosos para a saúde mental . Ao praticar a atenção plena, conseguimos reduzir o impacto do estresse e dos pensamentos negativos repetitivos, diminuir a ansiedade e melhorar a regulação emocional. Isso ajuda no alívio de sintomas de estresse e depressão, trazendo mais equilíbrio e clareza mental para o dia a dia. Também pode ser um apoio essencial no tratamento de condições como a ansiedade crônica e até mesmo no manejo da dor, já que promove uma maior conexão entre corpo e mente. Além disso, é uma ferramenta valiosa para quem deseja desenvolver habilidades de liderança ou criar ambientes mais saudáveis e sustentáveis, tanto na educação quanto no ambiente de trabalho. O que é Mindfulness? (Assista ao vídeo do Dr. Marcelo Demarzo falando sobre os conceitos e benefícios de mindfulness comprovados pela ciência) PERGUNTAS MAIS FREQUENTES Mindfulness é religião? Não. Técnicas atuais de Mindfulness são desprovidas de qualquer conteúdo religioso ou sectário. Com origem em diversas tradições culturais, religiosas e filosóficas, as práticas de Mindfulness, assim como outras práticas contemplativas ou meditativas, têm sido cada vez mais integradas a clínica contemporânea, principalmente na medicina e psicologia, com base em evidências científicas sobre os seus benefícios. Em quais situações podemos utilizar Mindfulness? Os programas baseados em Mindfulness são indicados como terapias auxiliares em casos de: Ansiedade e depressão; Dor crônica; Dependência de álcool, tabaco e outras drogas; Quadros orgânicos de hipertensão, diabetes, AIDS e doenças inflamatórias intestinais; Obesidade e sobrepeso; Sintomas de “Burnout” (síndrome do esgotamento profissional); Transtornos mentais em geral. Qual o sentido de "aceitação" em Mindfulness? É importante ressaltar que aceitação em Mindfulness não é resignação, e sim olhar a realidade como ela se apresenta, sem julgá-la ou reagir no “piloto automático”, permitindo uma resposta mais efetiva (e menos reativa ou impulsiva) aos fatores de estresse do dia a dia. O que são IBM'S? As Intervenções Baseadas em Mindfulness (IBM) têm sido progressivamente aplicadas e reconhecidas como terapêuticas seguras, eficazes e efetivas, tanto para pessoas portadoras de doenças ou transtornos emocionais e mentais, como para indivíduos saudáveis, no âmbito da promoção e prevenção da saúde.
um livro chamado a ciência da compaixão tem uma flor de lótus na capa
Por Mente Aberta 8 de março de 2024
Livro com o título La Ciencia de la Compasión
uma mulher está digitando em um laptop em uma mesa.
Por Vanessa Costa Lima 24 de maio de 2023
Vamos começar te contando que há comprovação científica para a melhoria da saúde mental e da performance em ambientes corporativos onde se estimula a prática de Mindfulness. Mindfulness pode ser entendido como um treinamento do “músculo” da atenção, deixando nossa mente mais focada e menos dispersa no dia a dia, com mais consciência e menos […] O post Você se preocupa com a saúde mental no ambiente corporativo? apareceu primeiro em Mente Aberta Mindfulness Brasil.
TODAS AS LEITURAS
Share by: