Por que treinar a atenção ajuda a lidar melhor com o estresse?

dez. 11, 2019

Existe uma relação inversa entre estarmos mais atentos e nos sentirmos “estressados”, ou seja, quanto mais estamos presentes e atentos em nós mesmos e no que estamos fazendo, melhor lidamos com o estresse do dia a dia.

É comum encontrarmos a palavra “mindfulness” (atenção plena, conheça mais) associada às palavras “redução do estresse”, mas nem sempre fica claro o “porquê” dessa relação. Aliás, ainda há muita confusão nesse tema.

Por exemplo, como para praticar mindfulness usamos algumas técnicas simples e científicas de meditação, muitas vezes se confunde mindfulness com “relaxamento” ou “mente em branco”. Mas as pesquisas nos mostram que não são esses os principais benefícios de mindfulness para lidar com o estresse.

Um primeiro aspecto para entendermos melhor essa relação é sabermos que nosso cérebro responde muito mais rápido às emoções do que às decisões racionais, ou seja, antes de pensarmos racionalmente já estamos reagindo emocionalmente, muitas vezes impulsivamente.

Muitos de nós, por exemplo, já respondemos imediata e reativamente a mensagens de e-mail ou WhatsApp, muitas vezes com frases “atravessadas” ou “mal-educadas”, e depois de um tempo nos arrependemos.

Isso ocorre porque a primeira reação foi mediada pela emoção intensa que emergiu naquele exato momento, e apenas depois foi possível pensar mais racionalmente, mas “já tinha ido”.

Por outro lado, se estamos mais atentos a nós mesmos e às situações do dia a dia, conseguimos com mais frequência perceber as emoções que estamos sentindo naquele exato momento, e podemos evitar o excesso de impulsividade, muitas vezes tendo respostas mais adequadas e menos reativas (criamos um espaço entre o “estímulo e a resposta).

As pesquisas nos mostram com muita clareza que a prática regular de mindfulness desenvolve em nós uma área do cérebro (“ínsula”) que está associada à capacidade de “interocepção”, ou seja, a habilidade de percebermos nossas sensações internas, o que inclui as nossas emoções (e a dos outros), e esse é um dos principais mecanismos pelos quais mindfulness nos ajuda a lidar melhor com o estresse, sendo menos reativos no dia a dia.

Um outro aspecto que explica a relação entre atenção plena e estresse, é o fato de a nossa mente estar “viajando” aproximadamente 50% do tempo, ou seja, é da natureza de nossa mente a dispersão ou divagação mental.

Nesse sentido, é importante lembrarmos que a divagação mental tem sempre dois lados, um positivo e um negativo. O lado positivo é a possibilidade de deixarmos a “mente viajar livremente” na solução de um problema ou na busca de novos caminhos para fazermos determinadas coisas, o que ajuda no aumento da criatividade.

O lado negativo é quando a divagação nos leva para a “ruminação mental”, que ocorre frequentemente quando “algo dá errado” e ficamos remoendo a situação de maneira negativa por longos períodos, gerando mal-estar e sensação de estresse e exaustão.

Nesse último caso, sabidamente mindfulness nos ajuda pois ao treinarmos regularmente a atenção plena criamos a habilidade de perceber quando a mente está no “modo ruminativo”, e podemos “desengajar” com mais facilidade, voltando ao que é importante e concreto naquele momento, ou seja, a mente fica “menos à deriva” e menos propensa à “ruminação mental”. Essa habilidade chamamos tecnicamente de descentramento ou habilidade metacognitiva.

Assim, os meios pelos quais a prática de mindfulness nos ajuda a lidar melhor com o estresse não são nem o “relaxamento” nem a “mente em branco”, como costumamos pensar, mas sim a habilidade de percebermos melhor nossas emoções e a ruminação mental, tendo assim mais autonomia para lidarmos com os estressores do dia a dia.

Vamos praticar?



Mande sua pergunta:

Se você tem alguma dúvida ou curiosidade sobre mindfulness, atenção plena ou neurociência do comportamento, por favor me escreva que terei prazer em abordar seu tema em textos futuros: demarzo@unifesp.br

Referência

García-Campayo & Demarzo. ¿Qué sabemos del mindfulness?. Madrid: Editorial Kairós, 2018.

Para Saber Mais Sobre Mindfulness

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação “Mindfulness” na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

 

Fonte – UOL


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