O que são os “ modo fazer ” e “ modo ser ” da mente?

18 de abril de 2019

Outra forma diferente de entendermos mindfulness é como um processo cognitivo “não narrativo” de viver a realidade, que alguns autores denominaram “modo ser”. Essa mente “não-narrativa” seria uma contraposição à forma habitual com que nossa mente funciona na vida diária, que podemos chamar de “modo fazer”. O “modo fazer” poderia ser definido como um modo voltado à realização de uma meta ou conquista, ou seja, a mente está preocupada e focada em analisar o passado e o futuro a fim de ter sucesso na obtenção daquela meta e, em consequência, o presente tem pouca importância naquele momento.

Reavaliar o passado e planejar o futuro não é um problema em si, pelo contrário, permite-nos rever e prever situações e tomar decisões, e fazemos isso muitas vezes durante o dia. O problema é que esse modo mental tem um “efeito colateral ou adverso”:
a mente tende a divagar de maneira contínua, com um “diálogo interno” (narrativa mental) exaustivo e muitas vezes repetitivo, no qual analisamos as “discrepâncias” entre como as coisas estão, e como gostaríamos que estivessem ou fossem (nossas
expectativas).

Assim, tudo o que acontece começa a ser rotulado ou julgado como “bom/mau”, “agradável/desagradável”, o que pode ser cansativo e até angustiante em algumas situações, gerando a percepção de estresse. Nessas situações seria interessante
acessarmos o “modo ser”, para reequilibrarmos as coisas.

No “modo ser” ou “modo mindful”, também chamado de “não narrativo”, o objetivo não é atingir uma meta concreta – não há nada especial a fazer ou obter, mas “apenas ser ou estar” naquele momento. Como não há expectativas específicas, a mente não analisa as discrepâncias destas com a realidade. O foco do “modo ser” está em aceitar e permitir a experiência dos fenômenos em nossa vida diária, sem pressão para mudá-la e sem julgá-la.

O interessante é que esse estado mental pode ser alcançado de forma voluntária, por meio da prática regular de mindfulness, esse modo mental nos coloca mais em contato com a experiência imediata e gera uma forma não narrativa, não conceitual de nos relacionarmos com o mundo ao nosso redor.

O objetivo de praticar mindfulness seria então acessar de maneira equilibrada e consciente esses dois modos mentais, alternando entre o “modo fazer” e “modo ser” conforme sentirmos a necessidade e utilidade para cada momento. Ou seja, não precisamos nos manter sempre no “modo ser”, já que a realização de atividades intelectuais ou que envolvam uma meta podem e devem ser desenvolvidas no “modo fazer”.

O que se pretende é não permanecer sistematicamente instalado no modo narrativo (“fazer” mental; “diálogo interno”), pois pode não ser útil ou se tornar uma prisão em determinadas situações, em especial quando emergem pensamentos autodepreciativos
ou excessivamente críticos, que se repetem em nossa mente de maneira automática, gerando mal-estar e aumento da percepção de estresse. Essa situação negativa associada ao “modo fazer” chamamos de “ruminação mental”, e é a base de muitos transtornos mentais como a ansiedade e a depressão.

A prática de mindfulness nos permitirá passar do “modo fazer” ao “modo ser” de forma voluntária e consciente, facilitando a passagem de um modo a outro, de maneira útil e funcional.

Vamos praticar?


REFERÊNCIA:

Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação.Editora Palas Athena, 2015.


PARA SABER MAIS SOBRE MINDFULNESS

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação “Mindfulness” na Medicina, Universidade
de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

 

Fonte – UOL


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