A prática de mindfulness pode trazer, mais cedo ou mais tarde, desafios físicos e psicológicos, em especial no início do treinamento, conforme já referi e comentei no último post, mais em relação aos desafios físicos. Hoje tratarei de alguns desafios psicológicos mais comuns:
Durante a meditação estamos continuamente oscilando entre a dispersão e a sonolência (sobretudo no princípio). E certamente será mais difícil manter a atenção se, alguns minutos antes da meditação, você tiver discutido com alguém ou visto um filme ou recebido algum estímulo que o impressionou.
É normal e esperado que esses estímulos apareçam durante a prática. De qualquer forma, o surgimento da dispersão não é motivo para abandonar a meditação. Assim, uma “boa” prática de mindfulness ou meditação não implica ausência de pensamentos, mas sim a capacidade de observar nossa experiência corporal ou estado mental com
curiosidade. Ou seja, reconhecer e lidar com a dispersão deve ser considerada uma parte da técnica, e não um empecilho ou barreira.
Para a mentalidade atual (acostumada a muitos estímulos e atividades), pode ser que a ideia de “parar” para fazer uma prática de meditação ou mindfulness seja algo muito entediante. Permanecer 30 minutos observando um fenômeno aparentemente tão monótono como a respiração não parece muito interessante.
Por outro lado, aparte de todos os benefícios estudados de mindfulness, não existem duas respirações iguais. Podemos observar os seus vários aspectos: temperatura do ar, profundidade da respiração, regiões do nariz que estão em contato com a respiração, intervalos entre inspiração-expiração e expiração-inspiração etc.
Assim, uma estratégia pode ser observar as características singulares da respiração. Mas outra estratégia é observar o tédio em si: “Quais pensamentos se associam a essesentimento?”, “Que sensações físicas o acompanham?”, são exemplos de perguntas ou observações que podemos fazer durante as práticas de mindfulness se aparecer a
sensação de tédio.
Em qualquer tipo de atividade, os principiantes tendem a ter expectativas pouco realistas. E costumam pensar que podem atingi-las de imediato, bastando para isso um pouco mais de dedicação diária.
Assim como em muitas outras atividades da vida, a compreensão e aprofundamento na prática de mindfulness e seus benefícios não depende do tempo dedicado à prática durante um curto período de tempo, mas da bagagem da prática regular, ainda que o tempo dedicado diariamente não seja muito longo.
Em resumo, é uma “corrida de média e longa distância”, não um “sprint”. Alguns principiantes têm a expectativa de obter resultados ou experiências especiais de forma imediata e por isso praticam em excesso, por um lado, ou se frustram rapidamente e desistem, por outro.
Essa atitude antinatural costuma gerar incômodo e irritabilidade em relação a si mesmo e à própria meditação, porque acaba gerando resistência e mais desconforto físico e mental.
Vamos praticar?
Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação.
Editora Palas Athena, 2015.
www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)
www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)
www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação “Mindfulness” na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)
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