“Neurose do meditador”: entenda a origem desse sentimento de superioridade

9 de setembro de 2019

Como qualquer outra atividade ou intervenção, os programas de treinamento em mindfulness ou meditação também não estão isentos de possíveis efeitos inesperados ou mesmo adversos, em especial quando não tomamos os cuidados necessários.

Estudos realizados demonstram que mesmo em meditadores com ampla experiência (mais de 4 anos de prática), os efeitos inesperados podem aparecer, por isso é muito importante preveni-los e conhecê-los, a fim de que tenhamos apenas os benefícios das práticas e técnicas.

Por exemplo, sensações de desconforto corporal, aumento da crítica e intolerância com os demais, sentimentos de grandiosidade e narcisismo com menosprezo pelos demais, busca da solidão e isolamento de outras pessoas, e até a adicção (dependência) à
meditação podem ocorrer.

Há fatores como patologias psiquiátricas ou transtornos de personalidade pré-existentes nos meditadores que podem aumentar a frequência e a intensidade desses efeitos. A própria competência técnica e a personalidade do professor/instrutor de mindfulness ou
meditação podem influir na existência e nas características desses efeitos.

Dessa maneira, um instrutor de mindfulness ou meditação com uma ampla experiência e formação adequada parece imprescindível para ajudar os praticantes iniciantes (e mesmo avançados) a conhecerem, prevenirem e lidarem com esses efeitos quando surgirem, em especial detectando-os logo.


A neurose do meditador

Talvez o efeito mais negativo da prática da meditação, mais comum para praticantes de médio e longo prazo, é o que alguns autores chamam de “neurose do meditador”.

Consiste na sensação desenvolvida por alguns meditadores mais experientes de que “atingiram algo”, de que “não são iguais aos demais” e que “a meditação os tornou superiores à maioria das pessoas”. Essa “patologia” dos meditadores, também descrita
nas tradições contemplativas como o Budismo e a Hinduísmo, vai no sentido contrário ao espírito de mindfulness.

Ao invés de nos ajudar a relativizar o “ego” e produzir atitudes mais conscientes e compassivas, reforça-o de maneira narcisista, distanciando-nos das pessoas e das relações.

Assim, se percebermos, em algum ponto após iniciarmos a prática regular de mindfulness ou meditação, que algumas de nossas atitudes (ou mesmo de nossos professores de mindfulness) estejam indo para esse sentido da “neurose do meditador”, é melhor
revermos a prática e seus sentidos, voltando sempre aos seus princípios fundamentais de aumento da consciência e da empatia pelas pessoas e relações.

Vamos praticar?


Mande sua pergunta

Se você tem alguma dúvida ou curiosidade sobre mindfulness, atenção plena, ou neurociência do comportamento, por favor me escreva que terei prazer em abordar seu tema em textos futuros: demarzo@unifesp.br



Referência:

Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação. Editora Palas Athena, 2015.

Para saber mais sobre mindfulness:

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação “Mindfulness” na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

 

Fonte – UOL

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