Um dos objetivos mais conhecidos dos programas mais contemporâneos de treinamento da atenção plena (mindfulness)
é o melhor gerenciamento do estresse cotidiano. Por outro lado, muitas das técnicas que são usadas nos treinamentos
de mindfulness são derivadas da meditação, em especial da tradição budista.
Esse aspecto de mindfulness costuma gerar confusão, e muitas pessoas, que não se identificam com aspectos religiosos
ou espirituais da meditação, deixam de praticar mindfulness devido a esse fato.
As tradições filosóficas, religiosas ou espirituais, como o Budismo, Hinduísmo ou Sufismo, que desenvolveram inicialmente (há mais de 2.500 anos) os conceitos e práticas de mindfulness, não o fizeram para obter os benefícios “materiais” como o “manejo do estresse”, mas sim como parte essencial do desenvolvimento espiritual.
Por outro lado, a medicina e a psicologia sempre consideraram a espiritualidade um tema marginal, ou até mesmo um tabu dentro de suas práticas habituais, o que explica um pouco da confusão que comentei anteriormente.Essa aparente confusão se resolve, no meu ponto de vista, quando entendemos que são apenas contextos diferentes, não havendo “certo” ou “errado”:
Eu posso praticar mindfulness de maneira laica e científica, usando as técnicas meditativas como ferramentas comprovadas pela neurociência de manejo do estresse e melhora da qualidade de vida, sem ter contato algum com aspectos religiosos ou espirituais; ou posso praticar mindfulness dentro de um contexto filosófico ou espiritual. Basicamente é uma escolha ou motivação pessoal.
Sabemos que a maioria das pessoas que pratica mindfulness na atualidade não o faz por motivos espirituais, mas sim por razões relacionadas à saúde ou bem-estar. Curiosamente, a experiência nos mostra que as motivações podem mudar com o tempo, e eventualmente a prática contínua de mindfulness pode modificar a perspectiva da pessoa, e algumas acabam procurando aspectos filosófico-espirituais da atenção plena.
E vice-versa, uma pessoa que inicialmente entrou em contato com mindfulness via tradição budista, pode, em algum momento, optar por uma prática laicizada e científica.
De novo, não há certo ou errado, são apenas contextos ou motivações diferentes, com objetivos e resultados distintos.
Vamos praticar?
Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação. Editora Palas Athena, 2015.
www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)
www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo –
Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)
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