Ser policial é das profissões mais estressantes que existe. A exposição à violência e à morte, assim como a pressão para ser justo e eficiente em situações extremas de risco de vida, pioram muito essa condição, aumentando consideravelmente o risco de burnout (esgotamento profissional), além de depressão e a ansiedade.
Um estudo estadunidense mostrou que esses profissionais têm mais probabilidade de morrer por suicídio do que cumprindo o dever, e ter mais de 15 anos de profissão aumenta ainda mais essa chance.
Assim, infelizmente é comum que esses profissionais desenvolvam sentimentos e emoções negativas como a ira e a raiva, o que aumenta a tendência a impulsividade e agressividade. Esse fato acaba dificultando muito a tomada de decisões de forma racional, empática e ética (sem vieses de raça ou classe social, por exemplo), o que tem sido um tema recorrente nos últimos tempos.
Ainda é pouco frequente que policiais tenham acesso ao preparo cognitivo, afetivo e comportamental necessário para lidar com todos esses fatores de estresse, sofrendo ainda mais suas consequências do ponto de vista físico e psicológico, sendo comum os casos de enfermidades como o estresse pós-traumático. Somado a isso, é comum que esses profissionais usem estratégias ineficazes de enfrentamento do estresse, que muitas vezes podem piorar a situação, como o uso abusivo de álcool e drogas.
Um número crescente de estudos tem evidenciado os efeitos positivos da prática regular de mindfulness para policiais e já existem programas específicos para esses profissionais no Brasil e no mundo.
Os resultados mostram uma relação entre o uso das técnicas de mindfulness e a diminuição da impulsividade e agressividade nesses profissionais, mediado pelo aumento do controle da atenção plena e da empatia, o que resulta num melhor serviço à população, ademais da melhora da qualidade de vida desses agentes públicos.
Os resultados apontam também para a diminuição de emoções negativas como a ira e dos sintomas de depressão, explicado pelo melhor manejo dos fatores de estresse e a prevenção do burnout.
Dentro do tema da prevenção de atitudes discriminatórias ou racistas, extremamente atual (na sociedade como um todo, não apenas entre policiais), a professora de direito da Universidade de São Francisco nos Estados Unidos, Rhonda Magee, em um de seus artigos (em inglês), enfatiza o poder das práticas de atenção plena para o maior controle das emoções nessas situações, e para o aumento da capacidade de pensar com clareza e agir dentro de propósitos éticos e humanísticos.
Logicamente, a atenção plena por si só não será a única chave para combatermos esse tipo de discriminação, mas pode criar um espaço para que novos entendimentos sejam possíveis, facilitando novas atitudes conscientes em relação a esse sentimento muitas vezes culturalmente enraizado.
Nesse link você encontrará uma playlist completa, na forma de curso introdutório de mindfulness, com outras práticas simples e acessíveis a qualquer pessoa que queira dar os primeiros passos em mindfulness.
Se você tem alguma dúvida ou curiosidade sobre mindfulness, atenção plena, ou neurociência do comportamento, por favor me escreva que terei prazer em abordar seu tema em textos futuros: demarzo@unifesp.br.
Referência: Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação. Editora Palas Athena, 2015.
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