A atenção plena deveria ser considerada como uma das bases para o desenvolvimento humano, sendo pré-requisito para os processos educativos na infância e adolescência.
O treinamento de mindfulness para crianças pode ajudar a reduzir o estresse, aumentar o bem-estar, promover a aprendizagem adequada, melhorar as relações interpessoais com outras crianças e com os próprios pais, e enriquecer a maneira de se estar no mundo.
Ao mesmo tempo, os pais e adultos devem ter uma atitude paciente ao estimularem mindfulness nas crianças, já que é um processo comparável a se plantar e cultivar uma semente até que germine e dê flores a seu tempo. Ou seja, os resultados não são imediatos e fazem parte de um processo de dedicação e trabalho diários. Podemos dizer que o caminho é mais importante do que a expectativa de se chegar a algum lugar ou obter resultados. Por outro lado, alguns benefícios poderão ser contemplados desde o início, nos três níveis: físico, emocional e cognitivo:
Assim como treinamos os músculos, também podemos treinar a capacidade de atenção plena em crianças. Podem ser usadas tanto “práticas formais” quanto “práticas informais” de mindfulness. As primeiras envolvem técnicas para se treinar a atenção intencionalmente em um ponto de ancoragem (treinamento atencional), enquanto as práticas informais envolvem trazer o estado mental de atenção plena para a vida diária –por exemplo, comer, conversar com alguém, ou se vestir com atenção plena.
Apresento, a seguir, algumas práticas formais que podem ser realizadas de maneira simples e segura com crianças, em especial de 6 a 12 anos.
As práticas devem ser feitas regularmente, idealmente todos os dias, e devem ser de curta duração, de 5 a 10 minutos cada exercício. Sempre respeitando os limites e possibilidades de cada criança.
As crianças podem imaginar que estão no mar e que a respiração são as ondas, que se aproximam e se afastam da costa. O convite é para elas “possam ouvir seu próprio mar” enquanto respiram. O ideal é que se pratique num lugar mais silencioso, e que não se modifique o ritmo natural da respiração (deixar a respiração livre).
Nessa prática os braços estão cruzados sobre o abdômen, e se coloca o dedo indicador de uma mão na superfície do antebraço oposto. Então se inicia com algumas respirações mais profundas (2 ou 3), deixando depois que a respiração se estabilize no ritmo natural, e se pede para a criança observar, progressivamente, o dedo indicador subindo na superfície do antebraço ao se inalar (“puxar o ar”), e descendo sutilmente através dele, ao se exalar (“soltar o ar”). Depois de várias inspirações e expirações, elas podem repetir o mesmo processo no outro antebraço. As distâncias percorridas pelos dedos irão variar dependendo da duração da inspiração e expiração de cada criança, sendo importante que elas não tentem alterar sua respiração, apenas sentindo o dedo escorregar pelo antebraço, sem forçar.
As crianças são colocadas sentadas ou deitadas, sempre de maneira confortável e estável, e são instruídas a chamarem a atenção para as diferentes partes do corpo, de maneira ordenada, focando nas diferentes sensações corporais que são geradas (sensação de presença, formigamento, peso, temperatura).
O percurso pode ser feito “de cima para baixo”, isto é, da cabeça aos pés ou “de baixo para cima”, dos pés à cabeça. As crianças mais novas podem imaginar que o corpo delas é uma estrada, e a atenção, um carrinho de brinquedo que sobe ou desce pelo corpo, estacionando por alguns instantes em partes diversas. Uma alternativa é imaginar que o corpo é um quarto com a luz apagada, e a atenção é uma lanterna que vai iluminando as sensações nas várias partes do corpo.
Boas práticas com suas crianças!
Javier García-Campayo, Marcelo Demarzo & Marta Modrego Alarcón. Bienestar emocional y mindfulness en la educación. Madrid: Alianza Editorial, 2017
O post 3 práticas lúdicas de mindfulness para a criança ficar serena e paciente apareceu primeiro em Mente Aberta Mindfulness Brasil.