Estou muito feliz em estrear como blogueiro no UOL, tirando dúvidas e dando dicas sobre como levar mindfulness de maneira prática para o nosso dia a dia. Além de ser um tema que me fascina, ele é extremamente importante no mundo atual. A ideia deste primeiro post é falar sobre o que é mindfulness, introduzindo suas definições mais modernas.

Espero que o blog seja bastante interativo, e que possamos trocar ideias, dicas e opiniões sobre mindfulness e bem-estar; e também sobre como lidar bem com o estresse no nosso dia-a-dia. Boa leitura e boas práticas!

UM BREVE HISTÓRICO SOBRE MINDFULNESS (ATENÇÃO PLENA)

Embora muitos dos termos e técnicas relacionados a mindfulness tenham origem nas tradições orientais, em especial no budismo, mindfulness hoje em dia é visto como uma prática laica (secular, não-religiosa), com sólida base científica.

A palavra Mindfulness (atenção plena) pode ser considerada uma tradução da palavra “sati”, proveniente da língua páli – um dos idiomas nos quais os discursos de Sidarta Gautama (o Buda histórico) foram escritos há cerca de 2.500 anos.

É importante saber que Sati tem uma difícil tradução, já que se trata de um conceito amplo no budismo. Uma possível tradução seria “memória” ou “recordar”, no sentido de que algo, para que seja recordado, ou para que “exista” em nossa memória precisa ser vivido com atenção plena.

Outra ideia seria “recordar” de sempre levar a mente de volta ao que está acontecendo no aqui e agora, em contraposição a deixar as ideias devaneando ou “viajando” por aí.

A relação da psicologia e da medicina com mindfulness data do século XX. A psicanálise foi a primeira escola de psicoterapia a manter certa relação com o budismo, mas podemos dizer que foi Erich Fromm que introduziu a ideia de mindfulness no Ocidente, com seu livro Zen-budismo e psicanálise.

O marco mais importante para o desenvolvimento do movimento contemporâneo de mindfulness foi a fundação, em 1979, do Centro de Mindfulness da Universidade de Massachusetts (EUA) por Jon Kabat-Zinn, que desenvolveu o “Programa de Redução de Estresse Baseado em Mindfulness” (Mindfulness-Based Stress Reduction Program, MBSR), influenciando definitivamente a maneira como mindfulness tem sido praticado hoje em dia.

O QUE É MINDFULNESS?

Podemos dizer que mindfulness é um dos estados da mente, acessível a qualquer um de nós. Existem várias maneiras de se definir o estado mental de mindfulness:

“Consiste simplesmente em observar, contemplar e examinar. E o papel que assumimos não é o de juiz, mas de cientista-observador.” (Walpola Rahula)

“Dar-se conta da experiência presente com abertura, curiosidade e aceitação.” (Christopher Germer)

“Simplesmente parar e estar presente, isso é tudo.” (Jon Kabat-Zinn)

Em geral, essas definições sempre incluem os seguintes aspectos de mindfulness:

  • Capacidade de estar atento

O indivíduo não está distraído ou sonolento, e sim atento e perfeitamente centrado e focado no que está vivendo.

  • No presente

Uma pessoa pode estar atenta ao passado, remoendo saudades (fenômeno que pode ocorrer na depressão), ou centrada no futuro, temendo algo que possa acontecer (comum na ansiedade). Em mindfulness, o indivíduo está centrado na experiência do momento presente.

  • Intencional

Entrar em estado de mindfulness é essencialmente um exercício de vontade, intencional, que envolve uma escolha consciente de querer vivenciar o momento presente. Com a prática regular, o processo torna-se mais natural e é possível permanecer nesse estado uma boa parte do tempo.

  • Com uma atitude de não-julgamento (“Aceitação”)

Deve tentar não julgar ou criticar a experiência presente, e sim aceitá-la com uma atitude mindful, curiosa, gentil e aberta. Neste contexto, aceitação não significa resignação ou passividade. O sentido correto de aceitação em mindfulness é o de se olhar a realidade como ela realmente é, sem prejulgá-la ou reagir a ela no “piloto automático” (em geral, com as “lentes” do passado). Podemos traduzir essa atitude mindful como “olhar do principiante”.

Assim, podemos dizer que mindfulness é uma capacidade humana inata, porém, pouco explorada hoje em dia, para não dizer desconhecida. Vivemos em uma sociedade na qual o habitual é realizar múltiplas tarefas ao mesmo tempo, como, por exemplo, comer enquanto assistimos à televisão, caminhar falando ao celular, ou escutar música enquanto lemos um livro.

Os níveis de desatenção no mundo atual são impressionantes, e os dados científicos nos indicam que em aproximadamente 47% do tempo não estamos atentos ao que estamos fazendo naquele momento (“você ainda está atento nessa leitura?”

O estado de mindfulness seria então como um antídoto a viver desatento, no piloto automático, e reagindo sem consciência às situações. A ideia é que esse estado mental nos facilite o maior reconhecimento dos nossos estados interno sensações corporais, emoções e impulsos, e a partir daí podemos ter escolhas mais conscientes.

Para se treinar esse estado mental, temos várias técnicas e programas, os quais comentarei nos posts futuros. No próximo post falarei sobre a relação entre mindfulness e meditação. Até lá.